Especialistas apontam que além de contribuir para o aumento da produtividade agrícola, a adoção de práticas que favorecem o sequestro de carbono pode transformar o setor em um dos grandes aliados no combate às mudanças climáticas. “A retenção e o manejo do carbono no solo têm ganhado protagonismo como uma das estratégias mais promissoras para o futuro da agricultura sustentável no Brasil e no mundo”, explica Carlos César Floriano, CEO do Grupo VMX.
Com o aumento das exigências de sustentabilidade por parte dos consumidores e o avanço das regulamentações ambientais, produtores rurais e grandes grupos do agronegócio buscam soluções que conciliem produtividade e responsabilidade ambiental.
Entre essas soluções, a gestão do carbono no solo desponta como um caminho técnico, economicamente viável e ambientalmente necessário.
O conceito de solo como um simples suporte físico para as culturas agrícolas ficou ultrapassado. Hoje, ele é visto como um ativo estratégico, capaz de armazenar grandes quantidades de carbono, reduzir emissões de gases de efeito estufa e melhorar a fertilidade natural.
Técnicas como plantio direto, rotação de culturas, integração lavoura-pecuária-floresta e o uso de adubos orgânicos estão no centro desse debate.
Para Carlos César Floriano, o tema vai além de uma tendência: “Estamos diante de uma mudança estrutural na forma como o agronegócio brasileiro enxerga o solo. O carbono passa a ser tratado como um recurso que precisa ser manejado, medido e valorizado”, afirma.
A adoção de práticas regenerativas tem despertado o interesse de agricultores, sobretudo diante da possibilidade de acessar mercados de crédito de carbono.
Diversas iniciativas públicas e privadas estão surgindo para apoiar o produtor nessa transição, oferecendo desde assistência técnica até modelos de monetização da captura de carbono.
O papel da ciência e a pressão dos mercados internacionais
Pesquisas conduzidas por universidades e centros de tecnologia agrícola têm demonstrado que o aumento dos estoques de carbono no solo pode gerar ganhos significativos em produtividade, ao mesmo tempo, em que contribui para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Esses resultados têm chamado a atenção de empresas internacionais interessadas em investir em projetos de agricultura regenerativa.
Carlos César Floriano destaca a importância da ciência nesse processo de transformação: “O conhecimento técnico é o maior aliado do produtor nessa nova realidade. Não se trata apenas de cumprir uma exigência ambiental, mas de implementar um sistema que traz benefícios agronômicos e econômicos de longo prazo.”
A pressão por parte dos mercados consumidores internacionais também vem acelerando a adoção dessas práticas.
Países da União Europeia e grandes cadeias de varejo já sinalizam que, em breve, produtos agrícolas poderão ser avaliados e precificados de acordo com a pegada de carbono de sua produção.
Para os produtores brasileiros, que há décadas se destacam em produtividade, o novo desafio é demonstrar eficiência também na gestão de carbono.
Programas de certificação e rastreabilidade estão sendo desenvolvidos para validar os estoques de carbono no solo e garantir a confiabilidade das informações para os compradores.
Carlos César Floriano: desafios, oportunidades e a busca por escala
Embora o potencial do Brasil para o sequestro de carbono no solo seja reconhecido internacionalmente, os especialistas apontam que a implementação em larga escala ainda enfrenta obstáculos.
Entre eles estão a falta de infraestrutura de medição precisa, a necessidade de capacitação técnica dos produtores e a definição de políticas públicas mais claras e robustas para incentivar o setor.
“O Brasil tem todas as condições de se tornar uma potência na agricultura de baixo carbono, mas isso exige coordenação de esforços, investimentos em tecnologia e uma política de longo prazo que traga segurança ao produtor”, ressalta Carlos César Floriano.
A expectativa é que, nos próximos anos, o mercado de créditos de carbono evolua, criando oportunidades comerciais reais para os agricultores que adotarem práticas sustentáveis.
Empresas de tecnologia já trabalham no desenvolvimento de soluções digitais para facilitar a medição e o monitoramento de carbono no solo, tornando o processo mais acessível e confiável para diferentes perfis de produtores.
O movimento também traz novas perspectivas para a imagem do agronegócio brasileiro no cenário global.
Ao adotar práticas que combinam produtividade e responsabilidade ambiental, o Brasil pode fortalecer sua posição como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo, agora com um diferencial ambiental cada vez mais valorizado.
“Enquanto isso, o solo brasileiro, antes somente um meio de produção, é visto como um dos maiores ativos ambientais do país”, diz Carlos César Floriano.