Utilizando microrganismos modificados para fabricar compostos específicos com altíssimo grau de pureza, a técnica tem transformado indústrias como alimentos, cosméticos, fármacos e agricultura, oferecendo alternativas sustentáveis, éticas e altamente eficazes. “A fermentação de precisão está despontando como uma das tecnologias mais promissoras na produção de insumos naturais”, explica Carlos César Floriano, CEO do Grupo VMX.
Na prática, a fermentação de precisão consiste em programar geneticamente bactérias, fungos ou leveduras para produzir substâncias que antes dependiam de extrações complexas ou da criação animal em larga escala.
O processo é semelhante à fermentação tradicional utilizada na fabricação de pães, queijos e bebidas, mas com um nível de controle biotecnológico muito mais refinado.
Isso permite fabricar, em tanques controlados, compostos como proteínas, enzimas, gorduras e aromas de forma mais limpa e previsível.
Empresas ao redor do mundo têm investido bilhões nesse campo. A promessa é clara: substituir matérias-primas escassas ou de origem animal por insumos biofabricados de maneira precisa, com menor custo ambiental e maior estabilidade.
Embora ainda pouco conhecida do grande público, essa tecnologia silenciosa já começa a impactar diretamente a vida cotidiana, dos ingredientes presentes nos cosméticos até as proteínas que compõem fórmulas de estilo de alimentação que se concentra em alimentos de origem vegetal.
Insumos naturais mais sustentáveis e com qualidade constante
Na indústria alimentícia, por exemplo, a fermentação de precisão é a base de produtos que imitam o sabor e a textura da carne, do leite e dos ovos sem utilizar nenhum ingrediente de origem animal.
Carlos César Floriano, afirma que a fermentação de precisão representa uma mudança de paradigma para o setor de insumos. “Estamos substituindo extrações caras, irregulares e muitas vezes predatórias por processos biológicos programáveis, replicáveis e com rastreabilidade total. Isso muda tudo”, destaca.
No setor de cosméticos e cuidados pessoais, ingredientes como esqualano — antes obtido do fígado de tubarões — agora são produzidos por leveduras modificadas, com idêntico desempenho em termos de hidratação da pele, mas sem impacto ambiental.
A mesma lógica se aplica a fragrâncias, pigmentos e antioxidantes antes extraídos de vegetais ou minerais raros, e hoje fabricados em laboratório com menor risco de contaminação e mais segurança regulatória.
Carlos César Floriano: precisão que transforma mercados e mentalidades
Embora a tecnologia já esteja em uso em países como Estados Unidos, Israel e Alemanha, o Brasil começa a despontar como um dos polos emergentes no desenvolvimento da fermentação de precisão.
O país reúne condições estratégicas para o avanço da área, como grande biodiversidade, experiência em biotecnologia industrial e um mercado interno consumidor em plena transformação, especialmente no segmento de alimentos e cosméticos sustentáveis.
Carlos César Floriano ressalta o papel do Brasil nesse novo cenário. “Temos potencial para liderar o avanço da bioeconomia no Hemisfério Sul, desde que invistamos em pesquisa aplicada, regulamentações modernas e políticas públicas que incentivem a inovação de base biológica”, observa.
A ampliação do uso dessa tecnologia, no entanto, ainda esbarra em desafios. O primeiro deles é o alto custo inicial de desenvolvimento e instalação de plantas industriais com capacidade de fermentação controlada.
Outro obstáculo é a necessidade de aprovação regulatória para o uso desses compostos em segmentos altamente fiscalizados, como alimentos e fármacos.
Além disso, há um caminho de comunicação e educação a ser trilhado. Como se trata de uma biotecnologia sofisticada, é comum que consumidores a confundam com engenharia genética ou produtos sintéticos, o que exige transparência das marcas e um esforço contínuo de esclarecimento.