Sob pressão climática: como o campo está reinventando as espécies cultivadas

Sob pressão climática: como o campo está reinventando as espécies cultivadas

Secas prolongadas, chuvas fora de época, ondas de calor e geadas inesperadas deixaram de ser eventos isolados e se tornaram sinais de um novo tempo para o agronegócio. No Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, as mudanças climáticas estão remodelando as lavouras, os ciclos de produção e, principalmente, o perfil das espécies cultivadas. “Com o avanço da crise climática, cresce a urgência por desenvolver variedades mais resistentes, adaptáveis e capazes de garantir a segurança alimentar em meio a extremos cada vez mais frequentes”, explica Carlos César Floriano, CEO do Grupo VMX.

A estratégia vai além do simples melhoramento genético tradicional. O que se vê é uma corrida contra o tempo para desenvolver sementes que resistam a estresses hídricos, temperaturas elevadas, pragas emergentes e até a solos com menor fertilidade. 

Essas novas variedades prometem não apenas garantir a segurança alimentar global, bem como, manter o Brasil competitivo nos mercados internacionais.

Culturas essenciais como arroz, milho, soja e trigo sofrerão impactos diretos nos rendimentos até meados deste século. No Brasil, os maiores riscos recaem sobre o Cerrado, bioma que concentra grande parte da produção agrícola. 

Com o aumento da temperatura média, áreas tradicionalmente férteis podem se tornar menos produtivas, exigindo respostas urgentes do setor.

Carlos César Florianotecnologia e ciência para um campo resiliente

A adaptação das espécies não é novidade, mas o ritmo atual é inédito. Instituições como a Embrapa, universidades e startups de biotecnologia vêm intensificando pesquisas voltadas à resistência genética e ao desenvolvimento de cultivares mais robustas. 

O uso de ferramentas como a edição genética por CRISPR, ou seja, técnica que permite modificar o DNA de células e animais, a inteligência artificial para cruzamentos estratégicos e simulações climáticas para testes de desempenho têm acelerado o processo de inovação.

Carlos César Floriano afirma que “Não estamos somente cultivando plantas, estamos cultivando resiliência. O futuro da agricultura dependerá de espécies capazes de sobreviver a extremos que hoje ainda surpreendem até os cientistas.”

Entre os avanços mais relevantes, destaca-se o desenvolvimento de sementes de soja tolerantes ao calor e à seca, milho resistente a ataques de insetos e variedades de arroz adaptadas a solos salinos. 

Essas conquistas não eliminam os impactos climáticos, mas minimizam perdas e tornam as lavouras mais previsíveis — uma vantagem importante em tempos de incerteza.

Além da genética, o manejo também se transforma. Sistemas integrados de cultivo, como a rotação entre espécies adaptadas, e o uso de bioinsumos são estratégias que complementam a adaptação das plantas. 

A convivência com pragas e doenças também exige inovação: fungos, vírus e insetos antes restritos a determinadas regiões estão migrando com as mudanças de temperatura, exigindo soluções integradas e constantemente atualizadas.

O clima não espera. O agro também não pode esperar!

O impacto das mudanças climáticas não se distribui de forma uniforme. Regiões do Sul do Brasil, tradicionalmente marcadas por clima mais estável, têm enfrentado episódios extremos que afetam a fruticultura e os cultivos de inverno. 

No Nordeste, por outro lado, variedades resistentes à seca ganham protagonismo, e a chamada agricultura do semiárido tem avançado com o apoio de tecnologias específicas.

“O clima não espera. O agro também não pode esperar. O agricultor precisa de ferramentas para plantar hoje pensando no amanhã”, declara Carlos César Floriano.

Para os produtores, a evolução das espécies representa, tanto um desafio técnico, quanto uma mudança de mentalidade. A adoção de sementes melhoradas, o entendimento das novas práticas de manejo e o investimento em sistemas mais complexos demandam informação, acesso e, muitas vezes, financiamento. 

Em resposta, surgem políticas públicas e programas de incentivo para a agricultura adaptativa, além de linhas de crédito voltadas à aquisição de cultivares resistentes.

A agricultura familiar, embora mais vulnerável, tem sido foco de projetos de extensão rural que levam até as pequenas propriedades sementes adaptadas a microclimas locais. 

“O conhecimento baseado na experiência dos agricultores, aliado à pesquisa científica, gera soluções customizadas e sustentáveis para diferentes realidades do país”, enfatiza Carlos César Floriano.